Diário de um Mestre #5: O céu não era o limite

Bem vindos a mais um diário de mestre! Hoje temos o fim do prólogo, depois de cinco sessões de escolta de criança!

O que aconteceu com a nossa party? O que deu de errado com o ritual? Onde eles foram parar?

Primeiro calma, são muitas perguntas de uma vez só. Vamos começar pelo onde!

Plano Celestial?

Lari sabia exatamente o que era para acontecer. Foi treinada desde pequena para isso. Depois do cântico, as luzes desceriam e Andrômeda sumiria, concluindo sua missão. Foi assim com todas as outras que eram marcadas pelos céus como herdeiras da deusa do equilíbrio e não seria diferente com ela.

Imagine sua surpresa quando foi diferente. Quando, depois de performar o ritual, sua visão ficou turva por um breve momento e, ao se estabilizar, revelou uma vista que nunca esqueceria.

As estrelas que os cercavam acima pareciam agora rodeá-los. O chão podia somente ser sentido pelos seus pés, mas se olhassem para eles, seriam deparados com a infinitude do espaço. A vertigem, assim como a confusão, foi inevitável. Mas esse não era o mais chocante.

Na sua frente, sentada numa cadeira que não eram capazes de ver, um pouco maior do que imaginava que seria, estava, como descrita nos textos e versículos de seu povo, a deusa do equilíbrio, Aureus.

Lari de imediato prostrou-se, mostrando o máximo de respeito que podia enquanto a questão “o que caralhos está acontecendo?” martelava sua cabeça. Os outros, por não saberem quem era, apesar de terem a suspeita de que não era pouca coisa, estavam num nível normal de confusão.

Aureus levantou-se, indo em direção ao grupo e estendendo seu agradecimento, primeiro à Lari e depois ao resto do grupo. “Obrigado, mensageira, por trazer minha sucessora em segurança.”, disse a mulher, antes de estender a mão para Andrômeda.

Se Andrômeda sentia medo, não o transpareceu. Lari, Lillian e Jorc talvez fossem os únicos que tivessem ciência da incerteza de Andrômeda. Ela andou em direção à deusa em passos demorados. Quando estava perto o suficiente de Aureus, virou-se para o grupo uma última vez.

Dera um olhar de adeus ou um até logo? A garota não sabia. Entre os três que conversaram com ela na subida da montanha, havia uma esperança velada de que se encontrariam de novo. Foi assim que Lari, Lillian e Jorc ganharam inspiração!

Andrômeda estendeu sua mão para Aureus e, por meio de uma magia que o grupo ainda não compreendia, a deusa a guiou para algum lugar onde o grupo não conseguia ver.

“Peço perdão por trazê-los aqui em minha moradia, mas preciso de ajuda.”

Quest principal, ihul!

Tenho que admitir que aqui foi um infodump gigantesco, tá? Infelizmente pra Aureus, ela teve o desprazer de descobrir que não era tão conhecida quanto imaginava. Alguns de seus feitos ainda existem no plano material, tanto que Teclis conseguiu deduzir algumas coisas na interação deles, mas outros muito importantes o tempo tinha apagado.

Por isso, vou contar todas as informações em ordem cronológica, afinal nem eu lembro mais qual foi a ordem do pingue ponge de perguntas e respostas que aconteceu na sessão.

No começo do mundo conforme conheciam, existia a Era da Calamidade. Era um momento de instabilidade em todos os sentidos: grandes poderes chamados calamidades estavam em constante guerra por supremacia, orgulho e afins, causando ondas de destruição e morte. O progresso tecnologico era voltado para armas de destruição em massa e cidadãos normais viviam em fuga, lutando pela própria sobrevivência.

Aureus, junto a seus companheiros na época, criaram a Ordem de Marseille, um grupo cujo objetivo era encontrar um jeito de derrotar tais calamidades. Juntos eles desenvolveram uma magia de conteção forte o suficiente para aprisionar as calamidades, dando ao povo uma forma de lutar contra forças maiores do que eles.

A prisão? Cartas, uma para cada calamidade.

O nome da magia? O Tarôt de Marseille.

SIM, ERA TUDO UMA REFERÊNCIA A PERSONA DESDE O COMEÇO! MUAHAHAHAHAHA!

Enfim.

Quanto mais calamidades capturavam, mais custoso para Aureus era manter essa magia funcionando. Durante sua jornada lutando contra e capturando entidades, seu poder foi gradualmente crescendo, mas ainda assim não era suficiente.

A solução que encontraram foi a ascensão. Aureus se tornou a deusa do equilíbrio, isolando-se no plano celestial e, com isso, conseguindo manter a magia funcionando por um tempo maior. Era paliativo e tinha alguns pormenores, mas funcionou.

Foi assim o fim da Ordem de Marseille e o começo da Era Moderna. No entanto, não era o fim dos problemas.

Aureus não era um ser com tempo infinito. Mesmo que lentamente, ela ficava mais fraca com o tempo. Eventualmente precisaria recuperar suas forças para estabelecer o equilíbrio.

Aí que entrava Andrômeda. De tempos em tempos, segundo os ritos dos aasimar, uma criança marcada pelos céus nascia. Ela tinha uma quantidade excepcional de mana e por isso seria a escolhida a suceder Aureus. Bom, suceder era a palavra errada: ela era escolhida para a peregrinação, entregue a Aureus e assimilada.

Andrômeda não morreria. Ela deixaria de existir como uma pessoa só. Ela se juntaria às que vieram antes dela e assim, se tornaria Aureus.

A ideia de Andrômeda desaparecendo não parecia agradar muito a party, mas não tinham muito o que fazer com a informação. Era parte do dever de Lari servir à Aureus e, vale salientar, lutar com uma deusa no nível dois não me parece sensato.

“Tudo isso é muito legal” você ouve em sua mente, porque está lendo isso e reproduzindo mentalmente com a sua voz interna. “Mas então por que que Aureus precisa da ajuda de mortais?”

Lembra da chuva de meteoros? Segundo os relatos de Jorc, vinte meteoros desceram dos céus diretamente de Skybridge. Logo depois, foi dada a missão para Lari de escoltar Andrômeda.

Coincidência? Eu acho que não!

Aureus revela que algo aconteceu para que o Tarôt de Marseille fosse desfeito e as calamidades retornadas ao plano material. Como isso aconteceu? Ela não sabe, mas suspeita de uma influência externa. Alguém sabia dos ritos dos aasimar. Alguém sabia que ela estava fraca naquele momento. E alguém se aproveitou disso para roubá-la.

Aureus precisava conter as calamidades novamente, mas também tinha que encontrar o culpado pelo roubo. Não podia fazer os dois ao mesmo tempo. Por isso, pediu para que nossa party se tornasse a nova Ordem de Marseille e contesse as calamidades.

Uma pedida muito difícil, confesso. Como raios eles fariam isso?

Detrás de sua mão ela puxa duas cartas. Uma é inteiramente branca, com alguns detalhes pretos definindo onde uma imagem deveria ficar. A outra, uma velha conhecida de quem já foi saber se o amor verdadeiro estava na esquina ou não:

O Tolo

“Para encontrarem a calamidade mais próxima, toquem a carta dos tolos em sua testa, fechem os olhos e concentrem-se. Assim receberão uma ajuda, para guiar o começo de sua jornada.”

“Quando encontrarem uma calamidade, poderão usar a carta branca para subjugá-la. Terão sucesso se a criatura não conseguir mais lutar, ou consentir em voltar à sua prisão.”

Lillian, astuta como sempre, perguntou qual seria a recompensa de tal empreitada. Aureus disse que não tinha muito a oferecer, afinal, estava isolada do plano material a muito tempo e não tinha nada que poderia ser de interesse deles.

O máximo que podia oferecer era a garantia que haveriam muitas recompensas durante a jornada. Afinal, foi pelo mesmo caminho que Aureus ascendeu à deidade. O mesmo poderia acontecer com eles!

Claro, se falhassem o mundo poderia muito bem acabar. Então tem isso. Não é muito encorajador, mas é o que temos.

Aureus, vendo que nosso grupo não tem mais perguntas (mesmo que ainda tenham muitas dúvidas, imagino), recobra um pouco a noção do tempo. Percebe que não pode mantê-los por mais do que o necessário. Com as mãos, aponta os dedos indicador e médio pra cima e os anelar e mindinho para baixo.

Antes que pudesse mandá-los de volta, Gepeto pergunta:

“Senhora Aureus, você que viveu por tanto tempo assim, por acaso sabe dizer onde está meu Mestre?”

“Não tenho resposta para sua pergunta, mas, se serve de consolo para você, eu reconheço seu rosto, Gepeto.”

E com essa pedrada de plot hook, nos encontramos…

De volta ao Topo de Skybridge

A visão de todos fica turva e, quando percebem, estão de volta ao topo de Skybridge. Parece ser o começo da manhã, o sol já no céu mas o frio ainda se fazendo presente entre eles.

Todo mundo está meio estupefato com tudo que aconteceu. Eles perderam uma companheira de viagem e ganharam um baita dum trabalho em retorno! Foi quase que nem receber uma promoção no trabalho: lá se vai seu colega de cubículo e toma-lhe papelada.

Mais estupefatos que eles estava Flyan. Não demorou desde que retornaram ao topo da montanha para que ela fosse de encontro a eles. Quando os encontrou, não conseguiu remover a cara de surpresa.

Flyan pergunta se tá tudo de bem com eles. Eles acham que sim, e Flyan não parece confiar na resposta. O que ninguém podia esperar foi a pergunta depois dessa:

“Clériga, esse tipo de peregrinação costuma demorar tanto tempo assim? É a primeira vez que recebo seu povo em minha montanha, então não tenho parâmetro para comparar…”

“Como assim tanto tempo?”

Lembra o d4 da sessão passada?

“A última vez que eu vi vocês em Skybridge foi a um ano atrás…”

Como eu adoro ser DM gente, vocês não tem noção.

Tinha gente em desespero; tinha personagem olhando pra si mesmo pra ver se surgiram rugas novas pelo corpo; Lillian aproveitou o papo e perguntou quanto era a idade de todo mundo… inclusive, descobrimos que Teclis tem mais de 840 anos, o que também foi um choque generalizado!

Flyan se dispôs a ajudar nosso grupo a descer a montanha, mas Lari tinha outros planos. Planos esses que envolviam ficar sozinha um tempo e botar uma certa carta na testa, então queria privacidade. Reafirmou para Flyan que estava tudo bem sim, que eles já já desceriam para ir em direção à Elphora.

Foi aí que ela teve um lampejo de lucidez. Direcionou-se para Teclis, dizendo que nesse meio tempo (e bota tempo nesse meio tempo), ela tinha lembrado que tinha visto aquele livro que ele carregava! Foi um grupo de aventureiros que veio à Skybridge para… apreciar a vista?

O livro estava na mão de uma ladina. Fora isso, ela tinha lembrança de um guerreiro humano com olhos afiados e um sorriso caloroso.

“Clayton?”, perguntou nosso mago, a resposta vindo instantaneamente com Flyan fazendo que sim.

Bom, não era muita informação, mas pelo menos era algo.

Com isso, Flyan despediu-se, ainda confusa sobre como raios eles sumiram e depois voltaram, mas sabendo que eles não diriam nada sobre o ocorrido.

Era o momento que Lari precisava.

Pôs a testa contra a carta dos tolos e fechou os olhos. Depois de um minuto de concentração, encontrou uma imagem por entre a escuridão.

Era Elphora? São ruas conhecidas, que parecem ser a do mercadão central, até que sua visão parece flutuar para sudeste. Ela abandona as muralhas do conhecido e segue em direção a uma estrada de terra.

Depois de um tempo por essa estrada, da terra ela vira para a direita e segue por meio do mato alto. Aqui Lari tinha que rolar percepção, um vinte ou mais para descobrir algo. Infelizmente, ela não percebeu nada. Mais um tempo assim e ela encontra, escondido no meio da mata alta, um templo.

As portas duplas se abrem e Lari retorna à realidade.

Como um bom membro da party, Lari compartilhou com todos o que aconteceu. Durante sua recontagem, lembrou (com uma boa rolagem de religião) de um detalhe: a igreja parecia ser de uma deusa chamada Hedone. Era um culto relativamente “good vibes”, que existia perto de Deiros mas nunca dava muito problema com os seguidores de Aureus.

Um adendo: meus jogadores instantaneamente começaram conversas sobre “primeira missão do GM já é num cabaré, tô vendo…”. Absoluta mentira, jamais faria isso!

Bom, se os seguidores de Hedone estavam por trás de alguma coisa, então certamente algo tinha mudado. Só tinha um jeito de descobrir…

Retorno para Elphora

Voltamos para a estrada onde o combate na terceira sessão aconteceu! Dessa vez o cenário era bem diferente: a estrada estava lotada de pessoas indo em direção à Elphora. O grupo notou uma quantidade curiosa tanto de viajantes iniciantes quanto de casais.

Os rumores de cabaré se intensificaram. Muito rude!

Lillian foi empurrada pela party para conversar com um dos casais que estava lá para descobrir o que estava acontecendo. Aproximou-se de um casal de anões que estava por perto e começou o papo.

Primeiro que o casal olhou um grupo de seis pessoas e já deu uma estranhada sem nenhum motivo aparente. Porém, o papo seguiu normalmente: segundo eles, a igreja de Hedone estava numa época de ressurreiçãoe atraindo muitos fiéis novos!

Os ensinamentos da igreja? Por algum motivo, o casal não foi muito direto no ponto do que exatamente os pregadores do culto ensinavam. Pareciam meio constrangidos…

Os rumores de cabaré estavam ganhando muita força. Não sei por que.

Lillian estava satisfeita com o papo, mas ela ainda tinha mãos muito leves que ficaram um ano sem fazer nenhuma muquiranagem… foi aí que ela decidiu rolar Sleight of Hand para tentar roubar alguma coisa legal do casal. Dei dificuldade 15 para que conseguisse fazê-lo.

Ela rolou um sólido 14.

“O que você está fazendo?! PEGA LADRÃO”

Um grupo de mais ou menos cinquenta pessoas se virou em direção aos nossos heróis. Como esperado, foi um pernas pra que te quero em direção à Elphora, marcando o fim da sessão!

Conclusão

Retcons são bons, não saõ?

Foi uma sessão muito divertida, pra ser sincero. Tive que cortar alguns detalhes de lore porque já teve um dump imenso da Aureus e eu ainda tenho que preparar pra semana que vem. Dito isso, estou feliz: consegui dar meus itens homebrew pros players e introduzir o sucesso com o plot do Tarôt. Agora a mesa tem um nome! Eu acho. Ela pode ter um nome, pelo menos.

Qual poderia ser o nome? Ordem de Marseille parte 2? Os tarôzeiros? Os tolos? Não sei. Deixem nos comentários e até a próxima sessão!

Diz ele, sabendo muito bem que não tem comentários nesse blog (um dia eu conserto isso).