Bem vindos de volta pro diário da segunda sessão da nossa mesa! Foi uma semana de poucos acontecimentos grandes, mas de vários pequenos acontecimentos importantes!
O que será que os outros membros da party estavam fazendo? O que tinha no livro do Teclis? As respostas da pergunta, claro, estão no…
Lillian, que não tinha conseguido explorar a loja até o momento, agora tem uma oportunidade de ouro nas mãos: o lojista que Teclis conseguiu roubar parece um cara muito distraído… ambiente perfeito pra quem tem mão leve como ela.
Se aproximou como quem não quer nada e começou a conversar. Descobriu que o homem, Clayton, já foi um aventureiro antes, mas que depois de uma flecha na perna, não consegue se aventurar mais.
No joelho, você se pergunta? Não, na perna mesmo. O que seria perfeitamente ok, se não fosse uma flecha envenenada que demandou uma amputação emergencial antes que ele perdesse a vida. Coisas leves…
Bom, agora com uma perna de pau no lugar, ele não é mais um aventureiro. Está se desfazendo das agora antiguidades da sua vida de aventuras e… bom, depois ele não sabe, mas ele vai dar um jeito.
Lillian estava agora num dilema.
Ela achou o Clayton legal.
Como que ela pode roubar um cara legal?!
O que facilitou a decisão dela de não roubar Clayton é que, bom, as coisas deles não eram tão legais assim: ele tinha uma mochila velha, uma espada mais velha ainda e cinco frascos de poção vazios, mas resistentes.
Enquanto conversavam, outra pessoa juntou-se para observar a situação. Um velho amigo de todo mundo. No caso meu. Eu amo esse NPC e não vou negar.
Gideon entrou na conversa de Clayton e Lillian. Suas intenções não eram claras, mas parecia interessado em Lillian. Uma vibe meio real reconhece real, mas troca real por ladino, sabe?
Mas Lillian não tinha dilema nenhum.
Ela não achou o Gideon legal.
Muito pelo contrário!
Antes que ele sequer pudesse dizer o que queria com ela, foi prontamente cortado pelos dois, que não queriam nenhum papo com ele. Percebendo que não tinha como continuar a conversa, Gideon sai, fazendo questão de dizer que Lillian “desperdiçava seus talentos” no grupo que se encontrava.
Fez até questão de mostrar pra ela que roubara um dos frascos do Clayton! Que larápio!
Depois de ignorar a cena que o Gideon fez (Clayton aparentemente não se importava de ser roubado, afinal queria se livrar das coisas velhas mesmo!), Lillian abriu o jogo, dizendo que estavam ajudando uma moça a levar uma criança pra um lugar.
Foi esse momento que deixou nosso lojista matutando, fazendo as conexões alá Nazaré Tedesco até tomar uma decisão. Queria ver a criança que estava levando, pois tinha algo para dar pra ela pessoalmente.
Lillian deixou bem claro que poderia levar para a criança, mas Clayton insistiu mais que queria ir pessoalmente. Ele arrumou a mochila com a proeficiência de um ex-aventureiro e lá foram eles procurando pela Lari.
Mas onde estava Lari? Essa era a segunda pergunta mais importante na cabeça de Gepeto e Jorc. A primeira?
Qual seria um bom presente para a garota?
Foi aí que eles pararam numa loja com vários pós coloridos separados em pequenas sacolas, assim como pequenas bolinhas compactas também. A senhora que as vendia não teve nem tempo para explicar o que eram: Gepeto tinha interesse nos “doces” para dar pra criança.
“Ah, sim, doces! Claro, podem comprar quantos quiserem!” disse a senhora, como uma boa vigarista. E foi assim que Gepeto e Jorc saíram com duas bolinhas coloridas, uma amarela e outra rosa.
Bolas de açúcar, claro. Por que seriam qualquer outra coisa?
Mas as vezes as coisas não são o que parecem ser. O livro mágico de Teclis, por exemplo, não era um simples tomo, o que ficou claro quando ele o abriu.
O texto dentro dele parecia estar num constante estado de transformação, constantemente mudando o formato da tinta para que o conteúdo fosse ilegível. O tipo de magia que causava aquilo, pelo menos, ele conhecia.
Sabe quando você aprende Pitágoras e fica “Nossa, mas quando que eu vou usar isso na minha vida?”. Nessa sessão eu me senti exatamente assim, mas troca o teorema por conceitos de criptografia simétrica e assimétrica.
Juro que vai fazer sentido!
O livro estava sobre uma magia de cifra, das quais existem dois tipos: ou você precisa somente de uma sequência de palavras para desfazer o efeito ou é necessário também uma aplicação da mana de quem cifrou o tomo.
A primeira magia é comumente utilizada para comunicação entre reinos, onde uma sequência é combinada previamente pelos dois lados e a comunicação cifrada é possível sem a interferência de um mago. Na segunda, embora mais segura, costuma ser de uso mais pessoal, porque é necesário que o usuário original desfaça o feitiço. Claro, não é impossível de quebrar, mas é bem difícil.
Pela análise do Teclis, o livro parecia ser do segundo tipo. Pelo menos tinha alguma dica de quem era o dono. Se é que a palavra de Clayton era confiável. Afinal, era Blackroom ou Blackcastle?
Aubrey não queria saber muito daquilo. Estava mais preocupado com outra lojinha que encontrou. Uma pequena loja de artesanato muito da curiosa,que vendia quinquilharias de turista.
O clássico I ❤️ Elphora.
Mas tinha algo a mais naquela loja. Os olhos treinados de Aubrey perceberam que o processo de confecção dos produtos parecia misturar um pouco de todos os cantos do mundo. Não que ele conhecesse muitos cantos, mas ele conhecia alguns e sabia dizer quando certos minérios e outros recursos eram utilizados na confecção dos produtos da loja.
Era uma loja interessante, mas nada de mais.
Jorc e Gepeto encontraram Aubrey e Teclis e, juntos, procuraram Lari e Andrômeda. As encontraram ao mesmo tempo que Lillian e Clayton (que conveniente!). Agora estão todos juntos!
Clayton reconhece algumas pessoas do grupo. Como poderia esquecer o homem gentil que lhe prometera devolver o livro para seu dono? Ficou feliz não só em vê-lo, mas em reconhecer que aquele era um grupo de aventureiros se reunindo. Talvez não fossem durar depois da missão que estavam, mas pelo menos a visão deles como estavam agora preencheu o homem de nostalgia.
Como o NPC fofo que ele é, ele comentou isso com a party. Só que ele, nem ninguém na verdade, esperava que ia tomar um fecho tão sincero do Aubrey.
“Não quero me tornar um aventureiro assim tão ferrado que nem você não”
Uia.
Clayton, que devo lembrar, é um NPC fofo, respondeu à altura: “Também não espero que ninguém tenha que perder a perna e abandonar a vida de aventuras que nem eu!”
As amenidades terminaram no momento que Clayton pôs os olhos em Andrômeda. O reconhecimento veio: sua teoria estava certa.
Ele se agachou e estendeu a pelúcia de owlbear para a garota. Lari se pôs entre os dois, mas, percebendo que ele não era uma ameaça pra ela, deixou que ela pegasse o brinquedo.
Andrômeda até duvidou que fosse pra ela, mas depois de constatar que era real, ela virou a garota mais feliz do mundo. Enquanto brincava com o novo melhor amigo, Clayton se aproximou de Lari e perguntou se poderiam conversar em privado. Lari, relutante, concordou.
Os dois foram para um canto recluso onde eles poderiam ter privacidade (não impediu Lillian de tentar ouvir o que estavam conversando! O que impediu mesmo foram os dados…). Clayton foi bem direto com sua pergunta.
“Vocês duas são de Deiros, correto? Estão em peregrinação para a montanha?”
Lari confirmou.
“Se puderem esperar mais um dia, a vista de Skybridge é ótima. Acho que faria bem para ela antes de… bom, fica a seu critério.”
Lari anotou a sugestão mentalmente.
Clayton se despediu dela e depois do grupo. Fez seu caminho de volta para sua lojinha, dando para Lillian alguns frascos dele como tinham combinado. E foi assim que eles terminaram suas compras e, em procura por uma estalagem para ficarem, pararam na…
É um lugar multi uso, minha gente! No turno da noite, porém, as coisas mudam, pois está na gerência da esposa de Alphonse, uma anã chamada Erika. Vendo que novos clientes entravam no estabelecimento, Erika não perdeu tempo e começou a oferecer quartos para todo mundo!
E foi aí que aconteceu meu primeiro grande erro como GM.
Eu gosto de pensar que sou um escritor. Não tenho nenhum livro no meu nome, mas eu sou uma pessoa que sabe trabalhar personagens e tramas. Roleplay e worldbuilding é comigo mesmo.
Agora me bota pra trabalhar a economia de um mundo fantástico e eu caio que nem castelo de cartas em terremoto.
O preço da estadia, segundo Erika, era cinco moedas de prata. Até aí tudo bem. O problema foi quando Lillian perguntou quanto era a janta, porque ela queria comer um pouquinho ainda.
Cinco moedas de prata também. Mosquei legal.
Lillian aceitou o preço, embora extremamente frustrada, enquanto o resto foi dormir. No dia seguinte, preparando-se para sairem de Elphora em direção à Skybridge, nossos heróis foram comprar rações para ter o que comer durante a caminhada.
Cinco moedas de prata. Pois é.
Se eu tivesse uma moeda pra cada vez que algo custasse cinco moedas de prata, eu teria três, o que não é muito, mas é estranho que aconteceu tantas vezes e com tantas coisas diferentes. Imagina uma diária custar o mesmo que um café da manhã!
Lillian, ladina nata, aproveitou enquanto Aubrey pechinchava com Alphonse para executar sua vingança. Enquanto Alphonse foi perguntar para Erika quanto que custava (eu precisava comprar tempo pra pensar ok?), ela foi direto na dispensa e surrupiou cinco rações e sete pães. Aubrey, honesto porém frustrado, pagou duas moedas de ouro por quatro rações.
Agora equipados e descansados, tinham uma longa estrada pela frente… que ficaria para a próxima sessão!
Não tem como estar pronto pra tudo numa sessão de RPG, mas o importante é preparar o básico. Nessa sessão aprendi que preços também contam como o básico. D&D é um jogo antes de ser uma narrativa, então os elementos de gameplay, incluindo economia, tem que estar afiados.
Fica a dica: não façam o preço de uma diária o mesmo de uma janta. Vão achar que sua taverna é uma espelunca, e não estarão errados!
Obrigado a todo mundo que leu até aqui! Estou escrevendo esses posts algumas semanas depois de suas respectivas sessões, então ainda virão mais alguns bem rápido. Quando os posts estiverem no mesmo ritmo das sessões, esperem atualizações semanais!
Mas por enquanto, esperem coisas emocionantes para a próxima sessão…