Diário de um Mestre #0: O começo de tudo

Minha história com TTRPGs é curiosa. Eu conheci D&D no ensino médio. Não sei exatamente quando, mas imagino que quem me introduziu foi meu amigo que carinhosamente apelidarei de Albino. O conceito de jogo no qual você podia inventar qualquer tipo de personagem e fazer com que ele enfrentasse aventuras num mundo colaborativo me fascinou. Como um escritor de zero livros, era mais um jeito de me expressar artisticamente!

Infelizmente, nenhum dos meus outros amigos pareciam interessados em mestrar, então tentei jogar mestrando eu mesmo um one shot (sem nem saber o que isso significava) com eles durante o recreio. Não lembro muito da história, mas lembro do primeiro desafio da sessão: lutar contra uma aranha que apareceu contra eles no meio da floresta.

Foi um TPK. Não encostei no jogo por 10 anos desde então.

Nesse meio tempo eu até tive outras experiências com TTRPGs, destaque claro para quando mestrei uma mesa improvisada usando um sistema adaptado de Vampire the Masquerade para fazer um one shot de terror baseado no mundo de SCP durante a pandemia.

Essa mesa merece seu próprio post, afinal, não é todo dia que se vê um torniquete de pescoço, mas não vamos nos perder. D&D continuou sendo um fascínio meu por um bom tempo, um desejo inatingível e distante.

Somente no meu aniversário, num em específico que decidi comemorar com amigos na minha casa, em que uma oportunidade surgiu. Uma mesa de D&D sem muita pretensão, que era para ser um one shot introdutório do sistema, mestrada por nada mais nada menos que Albino!

“Com uma chance dessa você certamente não pensou duas vezes e caiu dentro, né?”

Eu teria caído, se ela tivesse sido oferecida para mim. Eu estava tão ocupado entretendo a galera que veio aqui em casa que eu não estava presente quando essa mesa foi concebida. Só fui descobrir ela meses depois em outro rolê, quando todo mundo estava falando nomes estranhos como “arremessar a Judite” e “Relignadorazerpiushkan” sem nenhum tipo de contexto. Claro, depois que soube que isso estava acontecendo, prontamente implorei pra que me incluíssem. Nem precisei chorar muito!

Esse foi o nascimento do meu primeiro personagem de D&D: um bardo que abandonou sua banda antiga para perseguir uma carreira solo e se aventurar pelo mundo.

O nome dele? Jun G Kook. Duvido acertarem o nome da banda que ele abandonou.

Rumo ao Vale Druida

Essa mesa rendeu muitas aventuras. Algumas épicas, outras estapafúrdias. Se não fosse uma mesa iniciante, certamente teríamos tomado um TPK. Eu era um bardo que não usava suas inspirações e, além disso, um meio elfo com ancestralidade fey que esqueceu que era imune à charme e acabou num tribunal medieval, supostamente tendo matado o rei enquanto convidado no castelo dele. Meus amigos certamente fizeram pior, só nunca admitiram.

Também tivemos momentos incríveis, que vou guardar no coração por um bom tempo. Tipo no mesmo tribunal medieval, no qual Albino decidiu que seria ótimo para nossa saúde mental chamar um amigo dele estudante de direito para ser o juiz do caso. Ou quando nossa ladina decidiu que seduziria um ser feito inteiramente de fogo por nenhum outro motivo além de “vai que funciona”. Pior que isso, quando a warlock do nosso grupo aprendeu o cantrip homebrew mais vil que eu já vi na minha vida: “Ahn?”, no qual basta só você falar isso pra pessoa e ela esquece o que ela acabou de falar.

É claro, vil porque eu, o bardo que fala mais groselha no grupo, sou a maior vítima desse bullying.

Vale dizer que não faz sentido eu escrever sobre essa mesa no pretérito. Ela ainda está rolando! Atualmente estamos em Shadowfell tentando resolver alguns vários problemas da nossa warlock com um vício em gaslight gatekeep girlbossing. Não sei quando vai acabar, mas também não estou com pressa! É a minha primeira experiência com D&D e também uma mesa que ainda vai criar boas memórias junto de bons amigos.

Mas já deu de ficar meloso. Estamos aqui pra falar sobre como eu fui acabar mestrando uma campanha! Além disso, o Albino certamente vai ler isso aqui e se for cringe demais eu vou tomar desvantagem na minha próxima rolagem.

O nascimento da mesa sem nome

Foi batendo papo com a warlock da mesa do Vale Druida, que carinhosamente apelidarei de Vic, que viemos com uma história de main quest interessante. Os detalhes eu vou te privar no momento, afinal, a mesa está rolando e tenho que manter segredo dos meus jogadores também, mas foi um bate e volta tão interessante de ideias que meu lado criativo começou a trabalhar na ideia.

Em momentos aleatórios do dia me pegava pensando sobre NPCs, quests e bosses, sobre como seria esse mundo e as forças que o movem. Worldbuilding nunca foi algo que eu trabalhei, então a novidade de ter que pensar nesse tipo de coisa foi um grande combustível criativo para mim.

Adicionado a isso, eu sempre quis mestrar uma mesa de RPG direito. Sem ser um one shot, uma campanha longa com começo, meio e (se Deus quiser, batendo na madeira aqui) fim. Essa ideia foi a primeira vez que esse desejo ficou tão próximo à realidade. Eu não podia desperdiçar uma oportunidade assim.

Foi assim que eu decidi adicionar mais uma coisa na minha lista de obrigações do ano: vou preparar o mínimo necessário para começar essa campanha, mestrar para meus amigos e ver no que dá.

Sem nunca ter mestrado uma campanha inteira.

O que pode dar de errado?

Depois de mandar mensagens para algumas pessoas, juntei um grupo de seis indivíduos que mostraram interesse em participar dessa tentativa de mesa de RPG. Dentre eles, claro, a minha amiga coautora e Albino, agora na sua skin de jogador! E depois de muita preparação (e bota muita nisso, meu vault no Obsidian é obscenamente grande), o sonho se tornou realidade: marcamos nossa primeira sessão!

Os detalhes dela, claro, ficarão para o próximo post. Você leu o título, afinal. Essa é a sessão zero! Além disso, é o primeiro post dessa série que espero que se torne regular nesse blog. É basicamente um renascimento, convenhamos.

“Mas por que escrever sobre D&D?” você se pergunta.

Não seja por isso!

O nascimento desse diário

Uma das jogadoras tanto dessa mesa quanto da mesa do Albino é minha namorada, que vou apelidar carinhosamente, embora sem nenhuma pretensão de explicá-los o porquê, de Cajado.

Se eu posso me considerar um jogador de D&D, então ela é claramente apaixonada. Atualmente, incluindo a minha mesa sem nome, ela participa de umas quatro campanhas, caminhando para a quinta, que vai ser (pasmem) uma mesa da galera do trabalho. Ela já esteve em mesas que terminaram por DR, one shots level 20 e sabe tanto de Tormenta quando D&D.

Ela já me apresentou essas mesas, tanto na tentativa de me chamar para participar quanto para me introduzir a novos estilos de narração para além do que estava acostumado com Albino. Compartilhou histórias delas com tanto entusiasmo que me vi querendo saber mais sobre os personagens e as tramas que estavam rolando na vida paralela da minha namorada.

Foi aí que ela me apontou para um blog.

Nele, documentados pela mestra da sessão, havia registros e histórias dessa mesa, desde a primeira sessão! Além disso, era a primeira mesa da mestra também. A mistura da narração da mesa e os relatos da mestra com as decisões que ela tomou por causa das rolagens foi encantadora. Foi como abrir uma janela para o mundo de mestrar, numa perspectiva que eu conseguia compreender muito bem.

Não teve jeito.

Eu, um autor em formação, ainda com zero livros no catálogo (isso vai mudar esse ano, me aguardem), vi nesse blog uma inspiração de praticar a minha arte, afiar a minha escrita, ao mesmo tempo que mantenho o registro de uma mesa que mesmo antes da primeira sessão já é especial para mim. Em cada diário está mais que declarado meu amor por TTRPGs.

Obrigado Albino por me introduzir a esse jogo.

Obrigado Mylena, que nem me conhece direito, por me inspirar ao ponto de escrever não sei quantas palavras esse texto foi e muitas mais por aí.

E obrigado à galera que decidiu participar do caos que vai ser essa campanha.

Que as histórias de Aubrey, Gepeto, Jorc, Lillian, Lari e Teclis sirvam de inspiração a autores, mestres e criativos como eu. Sejam cringe. Ganhem desvantagem por causa disso. Tá tudo bem.